quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Motivo do meu sumiço..ou merdas acontecem...


Agosto, como reza a tradição, foi um mês azarado. Tudo que podia acontecer ..aconteceu.
Era uma bela manhã de final de inverno e a minha esposa apareceu com a novidade:
- A caixa de gordura está entupida.....você cuida disso..amor???
Eu que não sou doido nem nada concordei e assim que ela saiu eu chamei uma pessoa para limpar a tal da caixa de gordura. Muito bem, aberta a tal da caixa veio o veredicto:
- O problema é no cano..acho que está entupido..não posso fazer nada.
Paguei o serviço que não resolveu nada e chamei um encanador. Dois dias depois de chamado, e com a caixa de gordura transbordando..para a alegria da minha esposa...o encanador apareceu.
Cavou o quintal inteiro procurando o tal do cano que supostamente estaria entupido. Depois de esburacar toda a grama veio o segundo veredicto:
- Não tem cano entupido não....é a fossa que está cheia.
É isso mesmo..fossa. Aquilo que precisamos ter em casa quando os municípios se lixam pelas obras de saneamento básico.
Paguei o encanador e chamei um empreiteiro que chegando ao local já foi avisando.
- Humm isso vai ser complicado. Para resolver vamos aterrar essa fossa antiga, abrir um poço de 6 metros de profundidade revestido com anéis de concreto e instalar um biodigestor. Mas antes de qualquer coisa vamos ver a situação da sua fossa atual.
Ele foi para a tampa de inspeção da fossa e abriu. (NR: Todos sabem que qualquer material orgânico em decomposição tem a péssima mania de produzir gases que por sua vez tem o hábito horroroso de ficar comprimido quando não tem por onde sair..). Foi só tirar a tampa e o meu quintal lembrou o congresso nacional. Voou merda para todos os lados.
O empreiteiro com cara de quem conhece tudo avisou.
- Melhor chamar o caminhão limpa fossa.
Com o meu quintal mais sujo que Brasília fui chamar o tal caminhão. Quando voltei para ver o estado de calamidade do meu quintal eu quase tive um ataque. A minha cachorra beagle estava mais feliz que pinto no lixo..com as quatro patas para cima chafurdando na boca da fossa. Naquele momento eu não sabia se abatia ela a tiros ou se iria chorar sentado na sarjeta. Pensei melhor e acabei lavando a maluca com a mangueira.
Esperando o tal limpa fossa olhei para o meu quintal..lembrava o Brasil..todo esburacado, com merda para todos os lados..e com gente feliz pela situação; no caso a minha beagle.
Chegou a caminhão e o sujeito já veio perguntando.
- Quantos metros cúbicos têm a sua fossa? Qual a profundidade? Tem lodo ou somente água? É esgoto primário ou secundário???????
Eu respondi que não tinha a menor idéia das respostas e que a minha relação com essa maldita fossa era somente prover conteúdo para encher.
Contrariado pela falta de respostas ele arrastou uma mangueira que um dia havia sido cor de laranja, mas com o passar do tempo e de tantas visitas em outras fossas ficou assim numa coloração do céu do planalto central em fim de tarde de depoimentos...um “degradê” entre amarelo e marrom entremeado de variações de laranja.
Enquanto ele socava aquela mangueira fossa abaixo fiquei ali pensando em perguntar se não daria para sugar o quintal inteiro e junto a minha beagle, mas pela cara de poucos amigos (e dá para ser feliz com um emprego desse) ponderei que seria melhor ficar quieto.
Alguns dias depois o empreiteiro chegou com a sua turma e iniciou a obra. Foram três semanas de escavação e cachorros acorrentados. Faltou comentar que além da beagle eu tenho um Pitbull. Divagando:: Eu tenho mais medo da beagle que do pitbull. Ela é neurastênica e ele com toda aquela força é dócil.
Mesmo com o Pitbull acompanhando a obra os pedreiros levaram essas três semanas para “finalizar”. Hoje eu recebi as chaves da minha nova fossa, ou como o empreiteiro gosta de chamar: “sistema para tratamento de esgoto ecológico”.
Não tenho mais canos entupidos, a caixa de gordura não vaza, a fossa não transborda, o esgoto vai para onde deve ir...mas e tem sempre um mas. Como aprendemos nos primórdios dos nossos estudos, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço no mesmo momento. Para instalar o tal do biodigestor e o poço revestido tiveram que cavar e isso criou no meu quintal duas montanhas de terra.
Questionei o empreiteiro e ele me disse que a remoção de terra não estava prevista no orçamento original e que precisaria de uma semana e seis caçambas para remover tudo.
Fiquei de dar a resposta..voltei para o quintal tentando lembrar como foi que tudo isso começou. Percebi um poeirão. Olhei e vi meu pitbull feliz da vida rolando nos montes de terra...com cara de criança feliz, coberto de terra e língua de fora ele olhou para mim como se dissesse.
-Vem brincar, relaxa..merdas acontecem...
Estou quase me jogando no monte de terra....

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a estória..dá pra escrever um livro.

Anônimo disse...

Lamento o que ocorreu, mas,pelo menos vou ficar alerta quanto a fossa, pois estou criando coragem para construir a minha casa...

Anônimo disse...

O Rabo da Porca apresenta - Fossa Brasilis.

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Esse post é dedicado a um irmão em blog, o Guto Cassiano, que – recentemente – encarou um agosto daqueles, mas que, enfim, sobreviveu.

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“Fossa Brasilis”


I

Bom Cassiano (que podia ser Ricardo –
Um modernista que supera gases nobres)
O recangalho de marmita, em buchos pobres,
Cria um bolo nuclear no próprio cardo.

Merda por Merda, Cassiano, a do Congresso
Escoa pública às narinas altaneiras –
Filhos da pátria encastelados nas palmeiras,
Que cheiram, contrariadamente, o retrocesso.

Eu mesmo cheiro e sei de merda muito bem,
Como tu sabes – merda em prazo ou à vista,
Entrega rápida o Planalto envia além.

Então, resistas à merda própria mais adunca,
Porque o lazer do brasileiro é ser esportista
E o brasileiro não desiste nunca.


II

A merda no Brasil não vem sozinha;
Com ela vem tributos caros e agregados,
Mais uns impostos calipígios melecados
E mil toletes emPACotados na cozinha.

O cara encontra no seu lar uma tragédia:
A fossa velha estuporou, fundiu o cano;
Até o carro da Avon não sabe o dano;
E já o Rex faz da merda uma comédia.

Enfim, a escala do fedor atinge o máximo
E aquele pobre que atura merda ao boga,
Encara (é o jeito) com humor o peido flácido.

Essa é a dura profissão do brasileiro:
Sorrir, enquanto a merda alheia lhe afoga;
E se banhar, pra esconder o próprio cheiro.


(F.N.A)
http://orabodaporca.blogspot.com